quinta-feira, 18 de abril de 2013

Desamparos

       Entrei correndo à procura da minha professora. Numa das salas encontrei seu irmão. Ele me chamou e logo que me aproximei ele me agarrou por trás. Imagino que pôs o pênis pra fora e ficou roçando nas minhas nádegas enquanto passava as mãos pelo meu corpo.
     Tinha apenas seis anos e era a segunda escola que frequentava. Estava instalada num sítio bem arborizado, tinha muro baixo, pintado à cal, com um largo portão de ferro. A casa era enorme, com muitos quartos e uma cozinha ampla com fogão a gás e à lenha, ficava um pouco afastada da rua e era toda rodeada por alpendres. Descendo em direção leste encontrava-se uma lagoa. Nossas aulas aconteciam sob os alpendres debruçados sobre três longas mesas cujos assentos eram compridos bancos de madeira. Embora as pessoas e o ambiente parecessem familiares esta escola serviu de cenário para uma agressão covarde promovida por um ingênuo “tio”.
   Foram minutos, ou segundos, intermináveis. Enquanto durava aquele ataque eu experimentava um desamparo que beirava a sensação de estar morrendo. Sentia uma enorme ânsia de vômito e meu corpo todo gelar e tremer. Era asqueroso aquele homem roçando minhas costas. A angústia foi tamanha que não lembro precisamente o que ele fez, era fato que suas mãos se multiplicavam por todo meu corpo. Estava apavorada e com um imenso medo de gritar, medo que ele me machucasse, e até de morrer. Não entendia absolutamente nada do que estava acontecendo, porém estava certa de que havia algo de muito errado naquele comportamento, principalmente pela maneira que ele me largou quando alguém adentrou a sala e flagrou a cena. Ele baixou a cabeça e virou em direção aos quartos, acredito que tentava se esquivar de alguma punição. Não tenho ideia do ocorreu depois, já que aproveitei pra fugir.  Corri o mais rápido que pude até chegar à minha casa e me sentir segura.
      De alguma forma me sentia cúmplice do assédio, por isso calei e tratei de esquecer este fato. Por este motivo não recordo dos dias seguintes a ele, lembro bem que me recusei a continuar frequentando esta escolinha. Foram anos sem recordar nada com relação a este dia fatídico, até encontrar por acaso a sobrinha dele, eu já estava com mais de vinte anos. Então, de repente veio à mente um filme acompanhado de todas as sensações que vivi naquele momento. Emfim eu podia recordar aquele homem roçando a barba no meu pescoço e a violência dele contra meu corpo. Acredito que foi depois desse abuso que passei a sentir nojo de homem de barba. Eu simplesmente tenho asco de que homens peludos me toquem.

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