terça-feira, 4 de março de 2014

Homofobia e fetichização da sexualidade lésbica


Somente na última semana, houve no mínimo três casos de agressões, que de acordo com as vítimas, foram motivadas por homofobia, dois somente em Brasília e outro em São Paulo.

Quatro mulheres, com idade entre 18 e 22 anos, foram agredidas na saída do Balaio Café, na 201 Norte, na madrugada desta sexta-feira (28/2). De acordo com a dona do estabelecimento, Juliana de Andrade, no momento da agressão, a polícia foi acionada e os suspeitos foram detidos em flagrante. Juliana informou ainda que as vítimas prestaram queixa na Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam) e afirmaram que o caso é homofobia.  Segundo a Polícia Civil, ‘houve uma confusão generalizada’ e troca de ofensas. O caso foi registrado na Deam como lesão corporal, rixa, injúria e ameaça. Várias pessoas foram conduzidas à delegacia(...)  Na última quinta-feira (27/2), Wilian Alves do Carmo, 26 anos, foi preso suspeito de ter espancado duas mulheres que saíam de um um restaurante no Setor Comercial Sul. O crime ocorreu na última terça-feira (25/2).  O rapaz teria feito ofensas homofóbicas às mulheres enquanto elas almoçavam. Em seguida, ele as perseguiu e as espancou. Uma das agredidas  fraturou o braço e foi encaminhada para o Hospital Regional do Paranoá. As jovens preferiram não se identificar...
“SÃO PAULO - Dois rapazes acusam seguranças terceirizados do Parque do Ibirapuera, na zona sul da capital paulista, de homofobia e agressões físicas após uma discussão na noite deste domingo, 23. Um deles, ferido com cassetete nas costas, registrou boletim de ocorrência. As agressões tiveram início por volta das 21 horas, depois que o dono de pizzaria Bill Santos, de 37 anos, testemunhou vigilantes correndo atrás de jovens com pedaços de pau e cassetetes nas mãos. Segundo ele, os agentes queriam "espantar" os garotos - alguns dos quais seriam menores de idade -, alegando que eles agiam de maneira obscenas em um ponto próximo da entrada, na Avenida República do Líbano.” Estadão.
                                                                                 
Nada me deixa mais indignada do que a necessidade que alguns homens têm de se auto afirmarem através da prática da violência. Acho interessante alertar que agredir homossexuais não torna ninguém mais hétero.  Não é porque o cara agride um gay que se provou que ele homem. Tenho uma amiga, lésbica, que sempre fala “Por trás de comportamentos homofóbicos há um sério problema de insegurança com a própria sexualidade”. Desconfio que haja um fundo de verdade em tudo isso, doutra forma, como explicar uma raiva tão intensa com o comportamento sexual de outros?

Mas como o que eu acho não é lei e menos ainda verdade absoluta, então, fui procurar bases pra fundamentar minhas desconfianças. Pesquisava sobre agressão e homofobia na net e olha o que eu encontrei no site da Veja, “Essa agressividade pode ser uma resposta a uma sensação de incômodo, insegurança ou ansiedade desencadeada pelo tabu da homossexualidade. Esses sentimentos devem ter maior influência no preconceito do que o ódio propriamente dito”, Cristina Lasaitis, pesquisadora que coordenou o estudo Aspectos Afetivos e Cognitivos da Homofobia no Contexto Brasileiro, tema de sua tese de mestrado. 

Ainda lendo a mesma reportagem me lembrei de um lance que Selma, uma amiga transexual, sempre me fala “Ana, na frente dos amigos, os caras adoram xingar, humilhar e agredir a gente, mas quando eles se encontram sozinhos com a gente ficam se insinuando, cantando a gente querendo que a gente toque eles. Eu fico indignada, na frente dos amigos são todos machões mas basta estar sozinho que se entregam”. Lembrei do desabafo da Scelma porque Cristina Lasaitis  colocou a importância do grupo pra o homem “o grupo tem um papel fundamental nas agressões”. Cristina acredita que, sem a conivência ou aprovação dos amigos, a chance de um indivíduo se tornar violento e partir para a agressão é muito menor. Em grupo, ele sente que pode ser vantagem mostrar-se homofóbico, além disso, há a sensação de que pode compartilhar a culpa pela agressão com o grupo. “Durante a agressão, predomina um forte sentimento de confraternização, de pertencimento, de coesão de grupo, além da adrenalina natural do momento. É quase como um banquete, cabendo à vítima, ironicamente, o papel mais dispensável.” 

Cristina não trata da ambiguidade dos dois comportamentos que Scelma vez por outra me confidencia em tom de desabafo, fala somente das agressões, deixando de lado as tentativas de sedução. Mas posso supor que esse comportamento ambíguo diz respeito sim a insegurança com a própria sexualidade, talvez até medo mesmo de ser reconhecido como gay. É como se a partir da agressão o indivíduo reafirmasse a sua heterossexualidade, a agressão seria o álibi para o agressor ou, até mesmo, ser uma forma de mascarar a própria homossexualidade. Acho bom a galerinha ficar de olho, esse comportamento não engana mais ninguém, existem muitas outras Scelmas que também fazem confidências e também contam sobre os caras que agridem gays na frente dos amigos e longe deles se jogam nos braços dos homossexuais. 

Agredir a mulher trans e o gay a gente supõe saber o motivo. Agora o que leva um cara a agredir uma lésbica ou homem trans?

ARTivismo
Suponho que tenha relação com o fetiche que se criou em torno sexo lésbico. Uma das fantasias masculinas mais comuns é ver/participar do sexo entre duas mulheres. No entanto, também é a fetichização uma das reclamações mais comuns que escuto das mulheres lésbicas, já que este fetiche não respeita a condição sexual delas. Normalmente os caras adoram saber que a menina que ele acabou de conhecer é lésbica ou bissexual porque já imagina a possibilidade de marcar um ménage. O cara acha que a mulher que é lésbica ou bi, em termos de sexo, topa tudo. Aí, um grande problema se forma quando a mulher lésbica frustra as fantasias masculina recusando seus “galanteios”. E o pior, exige ou cobra respeito. Pra o homem, hétero, ser repreendido por uma mulher, e ainda por cima, lésbica é uma verdadeira afronta ou ameaça a sua “supremacia”. Nessa ocasião a frustração se torna ódio e resvala em forma de agressão. A história sempre se desenvolve segundo esse enredo, sempre a partir de uma cantada seguida de rejeição, insultos e agressões físicas. Esse roteiro trágico reflete a cultura da coisificação da mulher, a objetificação da sexualidade feminina e lésbica e revela o caráter machista da nossa sociedade.


Sem comentários: