quinta-feira, 27 de março de 2014

Culpabilização da vítima de estupro é corroborada por pesquisa do IPEA



Venho sempre falando de uma tal história de culpabilização da vítima pela violência que sofreu, de legitimação dessa violência pela sociedade, de conivência do Estado com a violência até que surge a seguinte pergunta: Mas o que significa tudo isso? Leiam a pesquisa abaixo para entender do que eu falo. 

Em pesquisa, 65% dos entrevistados disseram concordar com a frase "mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas”. 

E 58,5% concorda que se “as mulheres soubessem se comportar, haveria menos estupros”.
 
Dos entrevistados, 63% disseram concordar com a ideia de que “casos de violência dentro de casa devem ser discutidos somente entre membros da família”.

A pesquisa divulgada nesta quinta-feira, 27, pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a partir do estudo batizado de Sistema de Indicadores de Percepção Social (SIPS), foi realizada com a entrevista de 3.810 pessoas, residentes em 212 municípios, no período entre maio e junho do ano passado.

Entenderam o que significa culpabilização da vítima e o que é legitimação da violência pela sociedade?

Culpabilização da vítima é a crença de que o estupro é provocado, que a mulher instiga o homem a agredi-la, de que a exposição do corpo justifica a violência sexual, de a mulher se comporta de forma inadequada. Como se o seu corpo fosse um bem de público usufruto. Esse tipo de concepção é a fundamentação da barbárie, é a tentativa de tornar o desejo e a libido masculina um instinto incontrolável e que corpo feminino desperta no homem essa fera incontrolável. 

A leitura que faço desses números é que 65 % dos homens que me rodeiam são estupradores potenciais, e me preocupa mais ainda pensar qual a percentagem deles que são de fato. Não me surpreenderia que a percentagem se revelasse somente um pouco menor, haja vista a dificuldade que temos de convencer os homens de que Não é Não, como também na forma que somos observadas e agredidas nas ruas com piadas e falsos elogios, ou até mesmo através das mãos bobas nas ruas, dos encoxamentos nos ônibus e metrôs dos beijos roubados em meio à multidão. 

E voltando a questão dos trajes femininos como estopim dos estupros, houve uma época em que mostrar o tornozelo justificava o estupro, depois a exposição do joelho despertava o instinto selvagem masculino, depois a coxa, e hoje o que seria uma roupa sexualmente provocativa? 

Antes de pensar sobre, devo advertir aos desavisados de plantão que ainda há tribos que exercem a nudez como cultura e que nem por isso ocorrem estupros das mulheres e que em países árabes as mulheres usam burcas e mesmo assim continuam sendo estupradas...


Mas ainda resta saber o que o é tolerância do Estado com a violência;
Em 2012, somente no Ceará, foram registrado
  197 feminicídios.
  9.716 lesões corporais,
  24.500 ameaças e
  1.492 estupros.
Em contraposição
  Foram registrados 7.781 boletins de ocorrência
  Que resultaram em 2.019 inquéritos policiais
  E 2.435 medidas protetivas, 
  E apenas 348 prisões.

Se do universo de 35. 905 agressões apenas 348 dos agressores foram presos, mesmo tendo ocorrido 9. 716 lesões corporais e1492 estupros, sem contar com os feminicídios, não me restam dúvidas de que o Estado tem sido omisso em coibir a violência contra a mulher, e portanto, conivente com agressor e tolerante com o crime. 

Além dessa grave situação, há ainda a descrença no poder de polícia, das 527 mil tentativas de estupros ocorridas em todo país apenas 10% foram reportadas a polícia, informação divulgada no site Folha de São dePaulo. Do meu ponto de vista fica claro que nós mulheres não acreditamos na polícia. Como confiar numa polícia que não pune o agressor, como ficou claro a acima?

Infelizmente a pesquisa revelou a face de uma sociedade gravemente doente. Mostrou o quanto esse país ainda precisa trabalhar para proteger suas mulheres e tornar um país mais seguro e civilizado. Acreditar que o crime de estupro pode ser justificado, seja sob qual argumento for, demonstra que ainda estamos vivemos na idade das trevas, que simplesmente rasgamos os anos de esforço em construção de um conhecimento libertador, emancipador e transformador. Somos capazes de ir à lua, de fotografarmos moléculas e galáxias muito distantes, de perfurarmos milhares de metros abaixo do solo pra prospectarmos recursos naturais. E, no entanto, alguns homens sequer são capazes controlar uma ereção...    
  

 

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