domingo, 4 de maio de 2014

Socos, pontapés e internet




Essa semana rolou nas redes sociais um link para uma reportagem que me chocou bastante. A reportagem foi levada ao ar pelo Jornal do Almoço desta quinta-feira (1º). Nela aparece o vídeo em que uma garota é agredida por três outras.
“Uma jovem foi agredida por outras três enquanto era filmada por um garoto em São José, na Grande Florianópolis. Além de levar socos e chutes, a vítima teve a roupa tirada. O vídeo publicado em redes sociais foi divulgado no Jornal do Almoço desta quinta-feira (1º). Nas imagens, é possível ver o começo da agressão, no amanhecer do dia. A vítima foi encurralada pelas outras jovens. Durante um minuto e meio, ela aparece sendo espancada, além de ter roupa arrancada pela agressoras. Já nua, consegue fugir, correndo. Durante a confusão, uma das moças se abaixou e pegou uma pedra. Ela atingiu a cabeça da menina várias vezes e, depois, confirmou o que fez para a câmera. "Olha ali, rachei a cabeça dela com a pedra", diz a agressora. O motivo da violência seria um rapaz. A menina que aparece apanhando nas imagens teria se envolvido com o namorado de uma das agressoras. A confusão ocorreu em um dos locais mais movimentados do bairro de São José, mas moradores dizem que não conhecem as envolvidas. A Delegacia de Polícia informou que os agentes estão cientes da briga e do vídeo na internet, mas não foi registrado nenhum boletim de ocorrência. Por isso, não foi iniciada nenhuma investigação.G1
Ao ver as imagens fiquei chocada com a violência reproduzida. Ainda porque se tratava de meninas jovens. Chocou-me ainda que uma pessoa se disponha a não só assistir as cenas passivamente como também capturá-las e jogar na rede. O rapaz sequer esboça qualquer reação diante daquele espetáculo brutal. Parece-me que cansamos de assistir a espetacularização da violência e não mais nos contentamos em ficar apenas plateia, querendo participar do espetáculo.
Um vídeo publicado em uma rede social mostra duas alunas brigando dentro do banheiro feminino de uma escola estadual, em Florianópolis(veja no vídeo ao lado). De acordo com a adolescente agredida, a violência foi arquitetada por outras estudantes. A denúncia feita para a equipe de reportagem da RBS TV indica que todo o cenário foi montado para divulgar o vídeo na internet e dar notoriedade às agressoras. O confronto aconteceu nesta segunda-feira (22). O caso ocorreu na Escola Estadual Presidente Roosevelt, que fica no bairro Coqueiros, na capital de Santa Catarina. No vídeo, duas adolescentes se agridem com socos, pontapés e puxões de cabelo. As imagens têm quase um minuto de duração e mostram uma plateia aplaudindo e incentivando as agressões. A jovem agredida, de 15 anos, afirmou que foi chamada para entrar no banheiro pela agressora, de 12, que está no sexto ano, e pela irmã dela. ‘Ela me chamou no banheiro como se fosse para conversar só eu, ela e a irmã dela. Aí, de repente, abre a porta vem um monte de gente gravando. Daí, nisso já começou a bater. Me disseram que já colocaram até no YouTube e no Facebook’, denuncia a garota agredida. ‘Já virou uma rotina. Não é a primeira briga que acontece naquele banheiro e sempre colocam na internet’ [grifo nosso], diz a mãe da garota que está na oitava série. Para a diretora da escola, Rosângela Medeiros, este é um caso isolado, que ocorre raramente dentro da instituição. Há 32 anos trabalhando no educandário, ela se diz surpresa com as imagens. De acordo com a diretora, as estudantes envolvidas não têm histórico de violência. Apesar da direção ter tido conhecimento do fato no momento da briga, só teve acesso ao vídeo dias depois. ‘Elas filmaram essa agressão com plateia. Uma aluna estava de braços cruzados, outra em cima da pia do banheiro, filmando, assistindo e aplaudindo. Eu garanto a você, esse tempo todo em que estamos na escola, e eu falo com muita propriedade, raramente acontece um caso assim’, afirma Rosângela. Apesar disso, estudantes garantem que este tipo de cena acontece com certa frequência na escola, com 560 alunos. ‘Acontece briga, aluno se joga da sala de aula. Os professores não têm controle dos alunos’, denuncia a estudante Natasha de Bastos. De acordo com a direção da unidade educacional, a adolescente agressora foi suspensa por cinco dias. Ela retornará para a aula na próxima segunda-feira (29) e será acompanhada por um projeto que tem como objetivo orientar para combater a violência no colégio.” G1

“Um vídeo de um flagrante de briga entre duas meninas na porta da Escola Estadual Rafael Leme Franco, no Jardim Antártica, zona Oeste de Ribeirão Preto, foi divulgado nesta segunda-feira (7) na imprensa. A discussão entre as duas alunas do 7º ano, na quinta-feira (3), teria sido motivada por ciúmes. O vídeo mostra duas meninas na calçada se batendo, enquanto um grande grupo de alunos incentiva a briga. O vídeo termina logo que um rapaz consegue separar as jovens. Moradores que residem próximo ao colégio dizem que essas brigas são comuns. ‘Pelo menos uma vez por semana tem um quebra aqui na frente’ [grifo nosso], disse um comerciante, que não quis se identificar. Um aluno, de 13 anos, e que frequenta o 6º ano, diz que as brigas são frequentes. ‘É briga é marcada lá dentro. E acontecem sempre’, revela. A violência, contudo, nem sempre fica apenas do portão para fora. A reportagem conversou com um aluno que diz estar cumprindo suspensão justamente por brigar. ‘Na sexta-feira (dia 4), joguei uma garrafa de gelo na cara dele (companheiro de turma). Parece que ele quebrou o nariz. Eu peguei um dia de suspensão’. Questionado se ficou arrependido, o estudante diz que não. ‘Ele xingou a minha mãe e se precisar eu faço de novo’, disse. Procurada, a diretoria da escola não foi encontrada para comentar o caso. De acordo com a Diretoria Regional de Ensino de Ribeirão Preto, a escola Rafael Leme Franco desenvolve ações de prevenção e combate à violência, contando com parceria de pais e da PM (Polícia Militar). ‘A Diretoria de Ensino ressalta que é fundamental que todos os esforços das escolas no combate a situações de vulnerabilidade encontrem eco nas famílias e nas comunidades escolares’, finaliza a nota.” Jornal a Cidade

Naturalmente, como é possível perceber, perdemos completamente o constrangimento de exibirmos nosso pior lado, o violento. Sou capaz de apostar que isso vem ocorrendo por conta de dois fenômenos bem importantes, a banalização da violência e a vontade de se tornar, de repente, uma celebridade instantânea. A banalização da violência dispensa qualquer comentário, já que se trata de um tema extremamente batido ultimamente. No entanto, bastante preocupante, pois estamos realmente nos brutalizando, nos dessensibilizando para o sofrimento do outro e, sinceramente, não consigo imaginar onde isso tudo vai parar. Principalmente porque essas práticas violentas venham sendo praticada por jovens e por garotas e que as principais motivações sejam o ciúme.
Outra questão que deve ser pensada é a que custo estamos buscando notoriedade ou fama e quais as consequências desse “aparecer”. Entendo que parte desse desejo de fama é estimulado pelos programas sensacionalistas que exploram ao máximo miséria humana e vivem às custas da exibição dos circos dos horrores. Mas é claro que se não houvessem espectadores não haveria programas com esse perfil. Então é um processo que se retroalimenta. Se já somos ou ficamos cada vez mais violentos, eu realmente não sei. Mas percebo que estamos cada vez mais sedentos de imagens que mostrem todas as nuances e ângulos de qualquer tragédia. Lembro que não faz pouco tempo a gente morria de medo de ver defunto, hoje em dia até o nome mudou, já chamamos de presunto. 
Mas enfim, acredito que a sociedade precisa discutir o ciúme, a violência e refletir sobre a mídia. E precisa fazer isso com a maior urgência. Ainda essa semana assisti, desavisadamente, um vídeo de um assassinato. Foram quase duas noites de sono perdidas. O assassinato foi filmado dentro de um presídio e mostrava a vítima, um suposto estuprador, em choque, sendo violentamente perfurado no peito enquanto olhava fixamente para a câmera. São imagens que nunca vou esquecer e que preferia nunca ter visto, mas que circulavam nas redes sociais livremente sem nenhum aviso de forte conteúdo. Tão chocante quanto às cenas eram os comentários alertando que a vítima mereceu o que teve e que ainda teria sido pouco. Como coloquei anteriormente, me preocupa bastante esse sadismo, como também me preocupa que ele seja usado como uma escada para a fama.



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